Andreia Pellisson

Você já ouviu falar em Quiet Quitting?

Quiet quitting, termo também conhecido como “desistência silenciosa” em português, é uma tendência mundial que defende estabelecer limites entre trabalho e vida pessoal. O movimento de esforçar-se o mínimo possível no emprego é uma estratégia escolhida da geração Z para lutar contra o burnout e dos efeitos de uma cultura tóxica que sugere sermos todos workaholics.

Como funciona o quiet quitting?

Aqueles que são adeptos a esse fenômeno continuam exercendo suas obrigações e entregando o que é pedido deles. Mas esses profissionais são menos propensos a engajar em atividades de socialização e de oportunidades de novas atividades da empresa, não ficam até mais tarde trabalhando, não chegam mais cedo, e não atendem reuniões não obrigatórias. A reação dos gestores das companhias tem sido diversas em relação a essa atitude de muitos empregados.
 
Alguns toleram, em parte, porque substituir esses profissionais daria mais trabalho do que lidar com essas características. Outros, acreditam que a melhor forma de lidar com esse fenômeno é demitindo  aqueles que agem dessa maneira. O que tem sido comum entre gerentes de empresas, é tornar o trabalho desses profissionais o menos gratificante possível de uma maneira que o próprio empregado peça para sair.
 
O quiet quitting tem se mostrado tão presente na cultura atual que pode ser visto em esferas para além do âmbito profissional. A expressão é utilizada também em outros aspectos da vida, como casamentos, relacionamentos , entre outros.

Quiet quitting é realmente uma tendência?

De acordo com uma pesquisa feita pela Gallup, com trabalhadores  com idades acima de 18 anos, os “quiet quitters” como são chamados esses profissionais, já representam 50% de toda a força de trabalho americana. E essa porcentagem aumenta ainda mais com trabalhadores acima dos 35 anos.
 
A pesquisa realizada pela Gallup chegou a essa conclusão, a partir de uma série de perguntas relacionadas ao engajamento do profissional. Questões essas que mediam o envolvimento e entusiasmo dos empregados no ambiente de trabalho. Na pesquisa, apenas 32% dos trabalhadores resultaram como engajados, os outros 18% relataram uma dessatisfação com o trabalho mas que se mantinham engajados independente. Os 50% que foram considerados quiet quitters não se sentiam engajados e não se colocaram no grupo de entusiasmados com a profissão.

Ao analisarmos esses números podemos perceber que 68% dessas pessoas não estão satisfeitas com o trabalho. E ainda, se analisarmos outra pesquisa realizada no ano de 2000 pela The Atlantic, podemos ver que os números não são muito diferentes. De acordo com um dos especialistas que participou dessa pesquisa, Derek Thompson, o termo ganhou popularidade simplesmente pelo fato das pessoas buscarem vocabulário novo para descrever seus sentimentos.

Reavaliação sobre trabalho e carreira

Alguns dos pontos mais comuns entres aqueles que se consideram quiet quitters são: pouca ou nenhuma interação com os outros colegas de empresa; estar completamente offline antes das 8 da manhã ou depois da 18; tarefas não urgentes são deixadas para depois; eles dificilmente contribuem para projetos extracurriculares; não tomam iniciativas para realizar outras atividades ou ajudar aqueles que podem precisar.

Muito mudou após a pandemia do Covid-19. Muitos desses profissionais passaram a valorizar e priorizar outros aspectos de suas vidas. Muitos deles deixam o escritório sem pensar no que tem que ser feito no dia seguinte, ou nos prazos que estão por vir. Eles definem limites para o tempo que vão checar os emails ou se conectar com colegas de trabalho quando não se está no horário comercial. E um dos pontos principais, eles não se sentem mal ou ficam com ansiedade quando requisitam folgas ou férias.

Um desafio para líderes

Ainda que muito se diga que as novas gerações sejam as inventoras desta tendências, como vimos ao longo desse artigo, essa onda já vem acontecendo há décadas. Por isso, para alguns líderes, o desafio é não estereotipar os novos profissionais que chegam no mercado de trabalho. Ao invés disso, considere cada empregado como único e individual, com suas prioridades e necessidades.
 
Melhorar a experiência dos empregados. Achar momentos que importam durante o dia-a-dia da empresa, inspirar propósitos na companhia, criar conexões verdadeiras com colegas que vão além do trabalho. E usar elementos para tirar o melhor dos colaboradores dentro do horário comercial.
 
O foco no propósito tem o poder de motivar as pessoas da melhor maneira possível. Profissionais são mais propensos a se engajar em atividades quando se sentem conectados a uma crença em comum. Bons líderes dão ênfase na visão, valores e ajudam colaboradores a achar também o propósito individual, que de uma forma ou de outra impacta na organização como um todo.
 
Escutar os colaboradores e procurar entende-los é uma boa maneira de lidar com o quiet quitting. Bons líderes sabem como é importante para um empregado se sentir valorizado, ouvido e entendido. Criar um ambiente seguro onde todo mundo sabe se sua importância para o sucesso da companhia é uma das maneiras de minimizar os problemas que vem com os quiet quitters.

Conclusão

O fenômeno viralizou nas redes sociais, mas não é algo tão novo assim. Esse é um conceito sobre baixo engajamento no trabalho e esforço limitado já acontece por algum tempo. Contudo, a pandemia mudou muito a forma como as pessoas lidam com seus trabalhos e prioridades. Ainda existem muitas oportunidades, mas parece que o que está faltando são aqueles interessados a se comprometer com o trabalho árduo. Para as novas gerações, a impressão que fica é que o trabalho duro se tornou o grande inimigo dos sonhos e uma pedra no caminho.
 
O movimento do quiet quitting é o contrário do que foi enfatizado por muito tempo, e muitos acham que pode ser uma questão de tempo até que a economia mundial seja mais afetada por esse fenômeno. É um movimento que dificilmente pode ser parado, mas que empresas terão que criar estratégias para encontrar o meio termo, afinal é claro que o caminho da exaustão é prejudicial, porém o pouco engajamento ou interesse no que se faz profissionalmente, pode levar a um cenário de tédio e futuramente trazer demissões de verdade.

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