Alguns estudos apontam que a indústria da moda tem um dos maiores impactos prejudiciais no meio ambiente. Só em São Paulo, são geradas 170 mil toneladas de resíduos têxteis por ano (SEBRAE). De acordo com o Global Fashion Agenda, o poliéster, a poliamida, o acrílico e outras fibras artificiais que compõem mais de 60% do vestuário no mundo são responsáveis pela liberação de 34,8% dos microplásticos encontrados nos oceanos. E segundo o The Guardian, 85% dos materiais encontrados nos oceanos, como nylon e acrílico, foram usados para fabricar roupas.
Atualmente, nosso sistema produtivo funciona de forma linear, o que não é sustentável devido à exploração excessiva de recursos naturais e ao grande acúmulo de resíduos. Nós exploramos a matéria-prima, produzimos bens e depois os descartamos.
Uma nova economia têxtil irá surgir, alinhada com os princípios da economia circular.
Em maio de 2017, a Make Fashion Circular foi originalmente lançada como a Circular Fibres Initiative, no Copenhagen Fashion Summit. A iniciativa reúne líderes de toda a indústria da moda, incluindo marcas, cidades, filantropos, ONGs e inovadores. Seu objetivo é estimular o nível de colaboração e inovação necessários para a criação de uma nova economia têxtil, alinhada com os princípios da economia circular.
Um ano depois, no Copenhagen Fashion Summit 2018, a Iniciativa Circular de Fibras entrou em sua segunda fase: Make Fashion Circular. Para prosperar, e não apenas sobreviver, a indústria da moda precisa redesenhar radicalmente seu modelo operacional. Ao fazer a transição para um sistema circular, a indústria pode desbloquear uma enorme oportunidade econômica.
Consumo Consciente – Slow Fashion – Economia Circular.
O funcionamento desse sistema, no entanto, não depende apenas das empresas, mas de todos os envolvidos no ciclo de vida de um produto, que precisam entender seu papel nesse novo modelo. O consumo deve ser desacelerado e consciente. Vivemos em um mundo com relações de produção e comércio globalizadas, por isso há necessidade de disseminar o conceito de economia circular mundialmente.
Diversos países sabem da importância e estão progressivamente implantando os conceitos. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), lei implantada no Brasil em 2010, visa garantir a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a operação reversa e o acordo setorial. Assim, todos os agentes do ciclo produtivo, os consumidores e os serviços públicos devem minimizar o volume de resíduos sólidos gerados e adotar práticas que assegurem que os produtos sejam reintegrados ao ciclo produtivo.
Na medida que o consumidor passa a se questionar ainda mais sobre a necessidade de comprar uma nova peça de roupa, ou a se perguntar sobre a origem daquele produto e sua forma de produção, a cadeia de moda precisará se readequar – e o slow fashion, economia circular na produção e venda de produtos usados, aluguel de roupas, e uma cadeia socialmente responsável aparecerão não apenas como opções de nicho, mas sim como soluções inevitáveis para uma grande parcela dos negócios de moda.
Serão considerados sustentáveis empresas e projetos que contribuam com ao menos um dos seis objetivos ambientais contidos na classificação:
- A mitigação das alterações climáticas;
- A adaptação às alterações climáticas;
- A utilização sustentável e proteção dos recursos hídricos;
- A transição para uma economia circular;
- A prevenção e o controle da poluição;
- A proteção e o restauro da biodiversidade e dos ecossistemas.
Denominações
É importante entender que “moda sustentável”, é diferente de “moda ética” ou “moda reutilizada”, mas que a sua marca pode ser todas elas.
Moda sustentável visa principalmente o respeito ao meio ambiente, em termos de materiais e processos produtivos. Pode ser trabalhada de diversas, formas, como através de tecidos orgânicos, corantes naturais, fibras recicladas, redução do uso de recursos como água e energia, embalagens ecológicas, etc.
Moda ética também chamada moda responsável ou moda de comércio justo. Está, portanto, comprometida com a responsabilidade dos direitos dos trabalhadores e luta contra o trabalho infantil. Nesse contexto, existe diversas certificações que comprovam a preocupação com a cadeia produtiva, como Empresa B, Fair Trade, Programa ABVTEX, entre outros.
Moda de brechó / Vintage / Segunda mão: o mercado de pós consumo é uma resposta à produção excessiva de roupas e não para de crescer, com grande presença online. Os brechós podem tanto trabalhar com peças seminovas a valores mais baixos quanto com o garimpo de ítens exclusivos e de época.
Slow Fashion: O termo que significa “moda lenta” é inspirado no movimento Slow Food, e é uma oposição ao sistema de produção fast. Esse movimento preza pela atemporalidade, qualidade e durabilidade das peças. O slow fashion não se baseia em tendências passageiras e foca no uso de matérias-primas de qualidade e produção cuidadosa, tudo feito para durar.
Upcycling: É o método de transformar materiais que já existem em produtos novos com maior valor agregado. Por exemplo, marcas que utilizam nylon de guarda-chuvas para forros de bolsas, ou retalhos de jeans que se transformam em novas peças exclusivas como calças e jaquetas. Essa prática visa a redução de resíduos, aproveitando a durabilidade dos materiais para prolongar o seu uso.
Marca Sustentável
Segundo um estudo da Afeto Escola, para trazer práticas sustentáveis para a sua marca você pode se basear em quatro principais pilares, que são:
Econômico: alcançar lucro ao mesmo tempo que realiza ações positivas ou que não prejudiquem o planeta;
Social: visa melhorar a qualidade de vida comunidade e de seus trabalhadores;
Ambiental: enquadram-se os empreendimentos focados na preservação do meio ambiente;
Cultural: valorizar a cultura local, enaltecer a diversidade de gênero, raça e orientação sexual, além da liberdade de expressão.
Verdade e Transparência para uma Marca Relevante
Se você deseja implementar no seu negócio algumas práticas, seja verdadeiro e transparente com o seu consumidor, pois ele vai ver relevância no seu posicionamento. Termos como “greenwashing” e “social washing” tem surgido no mercado para falar sobre empresas que se apropriam de questões como a sustentabilidade apenas como uma estratégia de marketing, mas sem de fato tomar nenhuma ação positiva.
Ser 100% sustentável e ético não é fácil, estude o mercado e faça o que está ao seu alcance, mas seja verdadeiro sempre com o consumidor.
Foto Ilustração – Schutterstock
Fonte – Use Fashion – Ecycle – SEBRAE
por Andreia Pellisson