Estamos vibrando com as conquistas dos atletas olímpicos e felizes com suas vitórias e histórias de superação, afinal é puxado ter talentos e nem sempre recursos para explorá-los, além de que sonhar chegar ao pódio e ser um medalhista olímpico é um sonho que exige muito mais do que disciplina, esforço, determinação e persistência, exige também abdicar de momentos da infância e adolescência, da família, de amigos, além de ter que aprender a driblar os aspectos emocionais para lidar com as pressões que são submetidos durante toda a trajetória. Cria-se, portanto ao redor desses “super-heróis” uma alta dose de expectativa por parte de todos os envolvidos e por parte do público. Só esquecemos de uma coisa: super-heróis não tem limites e também não existem, os atletas são como nós, seres humanos, portanto temos limites.
Quem assistiu aos vídeos me ouviu falar dos impactos que tivemos nos últimos anos em decorrência as mudanças provocadas pela globalização, também falei do movimento fast fashion (moda acelerada) e o quanto fomos aderindo e normalizando um estilo de vida frenético, cheio de excessos e não saudável (na moda e fora dela) sendo que a pandemia só veio agravar e revelar essas e outras questões, todos os reflexos da contemporaneidade.
Não a toa veio o movimento slow fashion (moda lenta) mostrando à importância de nos conscientizarmos a forma de produzir, consumir e viver, para não sermos escravos da moda e de um estilo de vida que consome o nosso tempo como se fossemos máquinas, robôs ou super heróis para trabalhar, vender e lucrar por lucrar sem observar as consequências que impactam na nossa vida, no coletivo e no planeta, além de que em 2020 a OMS alertou para a crise global de saúde mental devido à pandemia de COVID-19.
Um Choque Planetário
Para a surpresa de todos, em plena Olimpíadas de Tokyo 2020, a ginasta americana Simone Biles, de 24 anos, quatro vezes medalhista de ouro desistiu de disputar a prova individual por priorizar saúde mental.
“Acho que a saúde mental é mais importante nos esportes nesse momento. Temos que proteger nossas mentes e nossos corpos e não apenas sair e fazer o que o mundo quer que façamos.”
“Eu não posso carregar o mundo nas costas.”
“Sou mais que minhas realizações.”
“A vida é mais do que ginástica.”
As palavras ditas por Simone Biles ressoaram a princípio como um choque, mas foi necessário que uma ginasta, um fenômeno de extremo talento e competência, vitoriosa e venerada até mesmo por adversários, a partir de um gesto de recusa, conseguisse compartilhar sua vulnerabilidade e colocar o tema “saúde mental em evidência”, tomando proporção mundial.
O que então a recusa e comportamento da maior ginasta de todos os tempos diz dentro e fora do esporte, em nosso mundo contemporâneo?
O que podemos refletir e aprender com o legado Simone Biles?
Questões da Contemporaneidade
Que tal uma analogia entre o mundo do esporte x mundo do trabalho?
Para citar algumas: competição acirrada, busca por desempenho, excelência, metas, pressão, aceleração, julgamentos, exaustão, expectativa de sucesso, expectativa por transformar vidas, compulsão por produzir resultados.
A importância do Autoconhecimento
Nós nos conhecemos?
Sabemos os nossos limites (físico, mental, emocional)?
Sabemos o que pode ser melhor para nós e para o nosso time?
Sabemos tomar atitudes e nos posicionarmos com não, quando sentimos que é o melhor a fazer?
Conseguimos fazer escolhas respeitando a nossa dignidade, história, trajetória e valores?
Conseguimos dizer sim a nós mesmos e não as expectativas de terceiros?
Posicionar é preciso
Temos o direito e devemos nos posicionar com verdade e transparência.
A importância de sacar e respeitar os próprios limites é sobre autoconhecimento, é sobre saber quando avançar e quando recuar, isso é atitude, isso é posicionamento.
Estilo de Vida
Que estilo de vida estamos optando viver?
Estamos focando em qualidade de vida?
O jogo da vida não é diferente dos jogos Olímpicos, temos limites (e como temos!), afinal não vivemos (ou não deveríamos viver) para satisfazer expectativas de outras pessoas em relação a nós.
Na vida como nos jogos é preciso saber lidar com o lado bom e o lado ruim, com as alegrias e com as dores, mas podemos buscar consciência de que caminho escolher para sairmos do sofrimento. Nem sempre é sobre ganhar, mas honrar e respeitar a própria história, ter a coragem para recuar, caso necessário, e saber se colocar em primeiro lugar.
Olhar para a saúde mental é rever estilo de vida, é refletir escolhas sobre onde estamos hoje e o que queremos construir para o futuro.
Sim, Simone Biles nos deixa um legado!
E que legado, concordam?
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E se cuidem!
Abs
Andreia