Andreia Pellisson

Corpos são corpos não tendências!

A busca pelo corpo perfeito existe? O que significa ser belo(a) em uma cultura onde a transformação dos padrões de beleza está sempre mudando? Na verdade não existe uma única definição para determinar o que é belo ou não, uma vez que esse conceito é muito pessoal, mutável e depende do contexto histórico, social e cultural.

Segundo o professor e especialista em História da Moda, João Braga, nos anos 1950, os padrões eram de adultos, com corpo mais rechonchudo. Já os jovens tinham anatomia mais enxuta e quando a geração baby boom, concebida após a Segunda Guerra, começou a se impor na sociedade, estabeleceu-se esta silhueta como sendo a normal. Nos anos 1960, quando os jovens começaram a ditar o padrão de beleza, muita gente não conseguia tais medidas. O cinema começou a impor tal silhueta e, em seguida, com a modelo Twiggy e Mary Quant, que difundiu a minissaia, começou-se a ditadura da magreza. Nos anos 1970, com a consolidação do movimento hippie, o corpo magro não era tão cultuado. Já nos anos 1980, o padrão estético foi o das pessoas saradas e malhadas na academia. Primeiro porque a mulher precisava se impor no mercado e também por conta da Aids, cujos doentes morriam com 25 kg ou 30 kg. Era preciso mostrar saúde.

Aspiração de beleza sem limites

Nos anos 90, os ideais já mudaram para corpos de estilo supermodelos. Essa aspiração de beleza levou a um problema de saúde que quase virou tendência nos anos 90: a bulimia nervosa, com um único objetivo: se encaixar em uma aspiração de beleza sem limites. Já nos anos 2000 a cultura da magreza extrema ficou ainda mais evidente, porém com o boom das redes sociais, as curvas sexys, como as de Kim Kardashian, ganharam mais uma vez o centro dos holofotes onde colocaram a curva da moda de volta assim como os esportes de força e os músculos.

Hoje, observando algumas das pessoas mais influentes do mundo, conseguimos perceber uma volta da busca pela diminuição de medidas. Fotos recentes da Kim Kardashian evidenciam que o corpo magérrimo está em alta novamente, e que tendências da moda, como calças de cintura baixa e muitos croppeds, fortalecem esse tipo de corpo.

Ideal de corpo perfeito não existe

A busca pelo corpo perfeito é incansável e impossível de ser alcançada. Mesmo em uma era da positividade do corpo feminino, a beleza das mulheres foi sempre conhecida como um processo onde elas devem estar constantemente se ajustando, modificando, passando por procedimentos para corrigir algumas imperfeições que não são aceitas.
 
No caso da tendência da vez, a magreza extrema é dificilmente atingida pela maioria da população, e isso apenas exalta a luta de milhões de mulheres contra a insatisfação com seus corpos. Existe uma ideia de que podemos mudar nossa aparência como se tivéssemos trocando de roupa. Contudo, nosso corpo não é uma peça que podemos tirar e colocar no armário quando cansamos.
 
É extremamente perigoso criar essa mentalidade na cabeça de meninas e mulheres. Incentivar a ideia de que devem estar de acordo com as últimas tendências, e que se não se encaixarem nos ideais, a forma como são não é aceita. A busca pelo corpo perfeito não existe, pois da mesma forma que a magreza é vista agora como o objetivo, em alguns anos outras tendências virão.

Magreza não é sinônimo de ser saudável

O maior problema de relacionar a magreza com ser saudável, é que aqueles que não nascem com o um corpo petit, acabam achando que devem mudar a sua aparência para ter uma vida sadia. A busca pelo corpo perfeito acaba tornando tóxica a relação das pessoas com a comida e dietas. Restrição nunca é uma boa ideia, e mulheres, cada vez mais cedo, aprendem, através das redes sociais, que devem calcular calorias e se exercitar em excesso para conseguir serem aceitas com seus corpos.
 
Muitas pessoas têm a tendência a serem magras, independente da quantidade que comem. Mas a grande maioria não. E à medida que a sociedade afirma que magreza e uma vida saudável andam juntas, maior será o número de pessoas insatisfeitas com seus corpos. Isso gera um aumento em comportamentos perigosos como transtornos alimentares.

Corpos são corpos, não tendências!

Nos últimos anos, a indústria da moda fez um esforço para incluir diversos tipos de corpos mas será que isso foi apenas uma tendência passageira? Após todo o progresso feito quando se trata de aceitação corporal, parece que houve uma regressão nos ideais do
corpo feminino.

Qual o preço que pagamos pela beleza?

Ao analisarmos profundamente a busca pelo corpo perfeito, podemos entender que isso acontece como uma forma de pertencimento. A necessidade de ser aceita pelos outros faz muitas pessoas mudarem questões primordiais no funcionamento do organismo. Isso, querendo ou não, é um incentivo a objetificação e desumanização de mulheres, como se o valor delas estivesse apenas ligado à sua imagem corporal.
 
Uma maneira de desafiar esses ideais impostos é celebrar o corpo feminino da maneira que ele é. É sobre dar importância ao corpo pela forma como nos sentimos nele, e não por sua aparência. Padrões de beleza sempre determinaram a forma como, principalmente mulheres, devem ser e isso não é novidade pra ninguém. Contudo, essa necessidade de atingir um corpo ideal parece ter se tornado ainda mais incessante por conta das redes sociais.

Problemas associados

Corpos não podem ser parte de uma tendência, especialmente quando intervenções cirúrgicas ou transtornos alimentares estão envolvidos. O que uma celebridade decide fazer com o corpo dela não deve ser padrão para que outras milhares de pessoas façam o mesmo, nem que esse se torne o corpo ideal. A busca incessante pelo corpo perfeito pode acarretar a baixa autoestima, depressão, ansiedade, e distúrbios alimentares.
 
O número de casos de pessoas com algum tipo de transtorno alimentar nunca foi tão grande na história da sociedade. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, estima-se que mais de 70 milhões de pessoas no mundo sejam afetadas por algum transtorno alimentar, incluindo anorexia, bulimia, compulsão alimentar e outros.

Conclusão

Querer mudar a sua aparência não é o problema, desde que essa vontade seja uma escolha sua, e não por uma pressão imposta pela sociedade. A única pessoa que deve influenciar em questões do seu corpo é você. Pode ser difícil não se deixar levar pelas tendências, ainda mais quando vivemos em um mundo conectado pelas redes sociais.
 
Lembre-se que essas tendências vão e voltam, e se agora a magreza parece estar em alto, logo um outro ideal estará por vir. Por isso, a busca não deve ser pelo corpo ideal, mas sim por você valorizar a sua essência e como você se sente. O que o mundo impõe não está sob seu controle. Por isso, dê espaço à decisões que te deixam confiante, independente das tendências que você vê nas redes sociais.

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