A moda é uma poderosa força social e cultural que permite a expressão criativa e a comunicação entre indivíduos, comunidades e nações inteiras. O setor da moda também está ligado ao bem-estar humano, pois as suas práticas podem celebrar, mas também causar ansiedade em termos de imagem corporal e identidades ligadas ao gênero , à etnia e às crenças religiosas. Engana-se quem pensa que moda e política não têm nada a ver. Na verdade, é exatamente o oposto. A presença da política na moda é de suma importância. Tanto como forma de manifestação quanto como forma de regulação do setor.
Nada passa ileso pela história. No mundo globalizado em que vivemos, é difícil imaginar algo que não seja constantemente impactado por acontecimentos políticos, econômicos, sociais e ecológicos. E, claro, com a moda não seria diferente. Seja como reflexo das mudanças sociais ou como ferramenta de manifestação política, a moda tem um poder incomparável e ninguém contesta isso.
Entenda melhor
Uma indústria altamente lucrativa que trabalha com alta costura, eleva modelos ao estrelato e cria sonhos de consumo, ao mesmo tempo, carrega uma narrativa simbólica marcada por atos de lutas e ativismos que contribuíram para a formação da sociedade como a conhecemos hoje. Em 1968, por exemplo, quando o mundo fervilhava com milhares de protestos e oposição, um protesto nos Estados Unidos chamou a atenção. Cerca de 100 mulheres se reuniram em frente ao teatro onde aconteceu o concurso Miss América para se libertarem dos instrumentos de opressão: sutiãs, salto alto, espartilhos, cintas e até produtos de beleza. Daí a famosa história da queima do sutiã, que aconteceu apenas simbolicamente, pois a prefeitura impediu qualquer atividade pirotécnica. O acontecimento fez parte de uma década de muitos questionamentos, que inspirou desejos de liberdade durante a década de 1970.
A mudança social significa uma revisão proeminente nos padrões de comportamento e nos valores culturais. É possível perceber como a moda muda de acordo com os momentos sociais e políticos atuais ao longo da história. O que se vê nas coleções das marcas e nos desfiles é um reflexo do que acontece nas ruas, fora das passarelas.
Um exemplo é como o minimalismo surgiu. Surgiu como um movimento artístico do século XX que questionava o consumismo. Esse tipo de pensamento ganhou expressão e adeptos. Logo, suas referências surgiram na indústria da moda.
Inclusividade racial
Há muito tempo a indústria não representa tons de pele diferentes em seus produtos e campanhas. Havia um padrão de beleza que definia pessoas brancas e magras como bonitas e a indústria só se preocupava com esse perfil de pessoas. Depois de muita luta com os movimentos raciais, aos poucos a sociedade começa a aceitar pessoas que divergem dos padrões de beleza.
Ainda há um longo caminho a percorrer, mas o futuro tem sido positivo neste sentido. As marcas de cosméticos têm apresentado uma maior variedade de tons de maquiagem e produtos para o cabelo. Asiáticos e negros aparecem cada vez mais em anúncios e desfiles de moda. A diversidade tornou-se um símbolo de riqueza.
Globalização
A globalização refere-se à interligação econômica, cultural e política do mundo e às crescentes interações entre pessoas, empresas e instituições políticas a nível global. Embora o termo globalização só tenha sido mais amplamente utilizado a partir da década de 1980, a interdependência transnacional do comércio, da política e das culturas vem aumentando há séculos, principalmente como resultado da colonização europeia.
Isto significa que as ideias, os comportamentos e as decisões tomadas numa parte do mundo têm agora maior probabilidade de impactar as comunidades em todo o mundo. No contexto da moda, a globalização da sua produção e consumo resultou numa identidade de moda global homogeneizada.
Movimentos Feministas
Como ato de resistência, as mulheres ao longo da história usaram a moda para expressar sua posição política. Muito antes do boom das camisetas “O futuro é feminino”, senhoras como a Rainha Maria Antonieta e líderes feministas usavam peças e acessórios subversivos para mostrar à sociedade o que eram contra e a favor.
Um exemplo recente é o movimento Time’s Up. Levantada por atrizes, diretores e produtores de Hollywood, denunciou abusos e assédios sexuais no meio. Eles exibiram por unanimidade roupas pretas durante a cerimônia do Globo de Ouro de 2018 para reforçar a mensagem.
Outra situação foi a posse da vice-presidente dos EUA, Kamala Harris. A mídia falou muito sobre a variedade de trajes usados pelos presentes, a maioria deles desenhados por artistas femininas e negras. Outro destaque foi a grande variedade de roupas em diferentes tons de roxo que os convidados e a Sra. Vice-Presidente usaram.
Especialistas lembraram que a cor remetia ao movimento sufragista. Não foi a primeira vez que a moda de Kamala chamou a atenção. Durante a campanha, ela quebrou protocolos ao combinar seus terninhos com o All-Star Converse, trazendo a ideia de uma política mais moderna e progressista.
Conclusão
Certamente, a moda não é simplesmente criação de designers. É uma imagem cheia de referências e ideias que ecoam o contexto de uma época. Espelha diferentes aspectos como imagem, política, padrões de beleza, inovações tecnológicas e moda de rua. A relação entre moda e sociedade é uma via de mão dupla. Para que um seja diretamente influenciado pelo outro e vice-versa.
A moda é um reflexo do comportamento da nossa sociedade. Se estamos avançando em determinados temas sociais, isso significa que em breve a indústria da moda os apresentará. É por isso que é tão importante chamar a atenção deles e manter a conversa avançando.
(Imagem retirada do site Marie Claire)