Estamos em uma era do clamor pela diversidade corporal e representatividade, e isso não seria diferente na indústria da moda. Diversas marcas já têm adotado posicionamentos inclusivos tentando atender os mais diversos gêneros, tamanhos e formas. Contudo, quando analisamos de maneira mais profunda, surge o questionamento de até que ponto realmente essa inclusão atende as necessidades.
Ainda que cada vez mais vemos campanhas onde a diversidade dos corpos, tons de pele e tamanho sejam o foco principal. Continua sendo uma dificuldade para muitas pessoas encontrarem peças que atendam às suas necessidades. As lojas online conseguem ter uma maior oferta quando se trata de opções, mas as lojas físicas ainda não conseguem oferecer a mesma gama.
Entendendo melhor a indústria da moda
Por muito tempo o vestuário era apenas uma forma de proteção contra o ambiente externo. À medida que a sociedade avançou, a sua relação com as roupas também mudou. O que era apenas uma forma de aquecimento passou a ser parte da identidade. As vestimentas passaram a representar classes sociais, culturas e posições sociais. Com os avanços tecnológicos, as roupas começaram a ser produzidas em grande escala e alcançando a maioria das pessoas. Foi nesse período que pesquisas para entender as medidas humanas foram feitas, e que são revistas e atualizadas até hoje.
Ainda que a tabela de medida tenha sido um adianto para a indústria da moda, os que não se encaixam nesse formato acabam ficando de fora. Séculos se passaram, e hoje o debate sobre esses números ganham ainda mais atenção já que finalmente a diversidade corporal tem sido um destaque em todo o mundo.
Padronização corporal
É normal que nem tudo que vemos numa loja fique bom no nosso corpo. O problema acontece quando pessoas que não se encaixam nas medidas padrão não conseguem encontrar nenhuma peça em uma loja convencional. Surge aí uma ideia de que para estar na moda é preciso ter um corpo que vá de acordo com os padrões. E isso faz com que a indústria de vestimentas influencie mais do que as tendências de peças, acaba levando as pessoas a acharem que determinados corpos são ideais e “na moda”.
Dietas, procedimentos estéticos e diversos outros mecanismos entram em cena para aqueles que desejam comprar uma peça numa loja convencional. A moda deveria ser uma ferramenta de expressas identidades, mas acaba se tornando um forma de tortura para conseguir “entrar” numa calça. Uma jornalista chamada Naomi Wolf definiu muito bem essa relação com a moda: “A moda quando se alinha com a padronização, passa a ser um mecanismo de controle de corpos, no sentido de ser algo que as pessoas – principalmente as mulheres – buscam aceitação e pertencimento, fazendo o que for necessário para se manter dentro do padrão”.
Impacto psicológico
A falta de diversidade corporal na indústria da moda tem influenciado a relação das mulheres com seus corpos antes mesmo de chegarem às lojas. É normal a constante comparação com as modelos e as famosas na televisão. Acabamos acreditando que certas tendências não são para nós caso não estejamos encaixadas em determinada medida.
Para as mulheres que não baseiam suas identidades apenas na relação com esses padrões, a roupa pode até perder o sentido de liberdade de expressão. A roupa não vai ter mais o valor sentimental que tinha, mas sim a busca pelo corpo perfeito para poder utilizar tal peça.
Mudanças importantes
Visando uma diversidade corporal, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) aprovou uma nova tabela de medidas. Nessa mudança foi apresentado uma maior variedade de tamanho (do 34 ao 62), e ainda consideram dois biótipos femininos (colher e retangular). Essas mudanças seriam fruto de um diálogo de diversas instituições e empresas da indústria da moda.
De acordo com a coordenadora do Comitê, a diretriz, contudo, não é obrigatória para as empresas, dada a dificuldade do InMetro em averiguar seu cumprimento, argumenta ela. Hoje, as etiquetas das roupas devem conter seis indicadores: nome ou razão social, composição, símbolos de lavagem, CNPJ, país de origem e tamanho, sendo que o último não precisa conter um detalhamento além dos clássicos P, M ou G. O conselho da ABNT é que as marcas usem a tabela recente e acrescente na etiqueta, ou em algum tipo de tag, as medidas de circunferências elementares daquela peça: cintura, busto e quadril.
Conclusão
A própria indústria da moda incentiva corpos de certo padrão e acabam ignorando aqueles que fogem da normalidade e não estão nas tabelas mais usadas. Muitas pessoas acabam buscando um número menor pois quanto menor for o tamanho mais perto do ideal estão. Muitas marcas tendem a enganar os consumidores e dizer que ele veste P quando na verdade veste M ou G. Muitas lojas, infelizmente, ainda lucram com pessoas inseguras.
É importante que as marcas entendam que o movimento pela diversidade corporal vai muito além do fato de não se encaixar nos padrões atuais de beleza impostos pela sociedade. Mas sim de uma construção diária de aceitação e autoestima. Por muito tempo quem estava fora do padrão não tinha o poder de compra. Hoje, essas pessoas que vestem 46,48,50… Começam a ganhar voz e esperam ser atendidas da mesma forma que os outros tamanhos são.
As pessoas querem consumir, por isso para novas marcas, designers e empreendedores, essa janela na indústria é uma oportunidade única de crescimento. Aqueles profissionais que souberem entender esses consumidores e atender suas expectativas terão uma vantagem competitiva monstruosa.
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