Andreia Pellisson

Busca pelo carbono neutro

A busca pelo carbono neutro

Você já ouviu falar em carbono neutro? Normalmente quando compramos uma peça de roupa, calçado ou acessório, olhamos para a cor, design, estilo e nos preocupamos com a maneira que gostamos de nos vestir, porque claro, isso também é importante. Contudo, existe um número cada vez maior de marcas que estão tornando o carbono neutro como um de seus objetivos para melhorar os impactos da indústria da moda no meio ambiente.

Entenda melhor

Apenas a indústria da moda é responsável por 10% de todas as emissões de CO2 no planeta. Isso equivale mais do que os setores de correio e aviação juntos. Um dos principais fatores que levam o mundo da moda a ter números altíssimos é o “fast fashion”, que continua crescendo.
 
No caso do fast fashion, o grande número de peças necessitam enormes quantidades de energia, calor e água para serem produzidas. E ainda, na maioria das vezes os lugares em que essas roupas são fabricadas tem pouca quantidade de fornecimento desses recursos. Contudo, marcas bem conhecidas da indústria perceberam o impacto negativo que o mundo da moda causa e começaram a investir em maneiras mais sustentáveis para reduzir esses impactos.
 
De acordo com a Conferência das Nações Unidas, a UNFCCC (United Nations Framework Convention on Climate Change), para fabricar apenas um par de calças jeans são necessários 10 mil litros de água para produzir a quantidade necessária de algodão. Quando comparado ao consumo individual de água, uma pessoa demoraria 10 anos para beber essa mesma quantidade de líquido.

O que significa ser carbono neutro?

Quando falamos de carbono neutro, às vezes podemos levar a entender que uma companhia não produziu emissão nenhuma de carbono para produzir seus produtos, mas esse não é o caso. Quando uma empresa fala que é carbono neutra, significa que as emissões de carbono que ela não conseguiu diminuir, ela investe em recursos que reduzem o equivalente ao que produziram. Ou seja, elas compram ou investem em métodos de neutralizar o que foi gasto por elas.
 
Existem empresas especializadas em retirar da atmosfera esse carbono lançado. Dessa forma, ainda que uma marca não consiga diminuir em grande quantidade a sua emissão de CO2, ela pode investir nessas empresas de forma que o que foi gerado por elas, seja retirado na mesma proporção.

O que uma empresa deve fazer para ser carbono neutro?

Alguns dos passos mais importantes que as empresas devem tomar para se tornarem carbono zero são: calcular, conservar e compensar. Antes da companhia querer adotar essa prática, ela precisa calcular a quantidade anual de carbono que produz. Isso envolve todas as emissões que são influenciadas pela produção da empresa, tornando público de começo ao fim o processo de fabricação da marca.
 
Após esse cálculo é preciso eliminar as emissões onde for possível. Isso normalmente é um plano a longo prazo, pois envolve uma operação grande e de investimentos em novas tecnologias. Que muitas vezes podem levar anos para serem implementadas.
 
Por último, a empresa deve comprar a compensação de carbono que não conseguir eliminar por conta própria. Isso inclui investimento em massa em programas sustentáveis que tem o carbono neutro como objetivo. O que acontece normalmente é que nos primeiros anos as empresas acabam investindo mais na compensação, e a medida que podem investir em novas tecnologias para si, vão reduzindo suas próprias emissões.
 
Existem diversas maneiras de uma empresa comprar a compensação de suas emissões, no final das contas o objetivo é o mesmo, reduzir o CO2. Essas formas de compensação tem como desafio impedir que esses gases que provocam o efeito estufa de entrarem na atmosfera, ou remover os que já estão por lá.

Exemplos na prática de marcas que olham para o futuro:

A marca dinamarquesa Ganni é uma das primeiras que investe em ser carbono neutro. Além de investirem na compra de compensação de carbono, a empresa tem também programas internos que visam diminuir a emissão e atingir níveis importantes de sustentabilidade. Eles afirmam que ser carbono zero não é apenas uma vontade, mas uma necessidade.
 
O fundador da marca, Nicolaj Reffstrup, disse: “Não tem discussão. Nós temos que chegar lá e ponto. Para mim, ter essa responsabilidade é uma obrigação moral. Mas também uma apólice de seguro. Se você não consegue criar uma coleção carbono neutro, em 10 anos você estará fora do mercado.”
 
Em 2019 a Gucci anunciou que se tornou carbono neutro usando uma combinação de energias renováveis, mudanças em seus designs e produção e investimentos em programas de compensação. O CEO da empresa, Marco Bizzari, disse que a indústria ainda tem muito para alcançar quando se trata de uma verdadeira sustentabilidade, mas que foi crítico que sua companhia mostrasse o que pode ser feito.
 
E ainda, marcas que estão adotando diversas medidas para alcançar o status de carbono neutro, estão também alavancando a tendência de roupas ecologicamente corretas. Essas empresas estão vendo suas vendas aumentarem cada vez mais, portanto estão no caminho certo.

O que os consumidores podem fazer para ajudar?

Além de optar pelo slow fashion, consumidores têm também a possibilidade de escolher produtos que tiveram menos impacto ao serem produzidos. Alguns aspectos são importantes. Dar preferência a peças feitas com tecidos orgânicos, por exemplo. Muitas marcas já disponibilizam algodão orgânicos e outros materiais que não tem químicos e que exigem menos quantidade de água e energia para serem produzidas.
 
Uma outra opção são produtos feitos de materiais reciclados. Cada vez mais empresas estão usando esse tipo de produção em suas coleções. O que às vezes não está no produto em si, pode estar na forma com que as peças são produzidas. Ou seja, utilização de painéis solares, energias renováveis, menor gasto de energia…

Conclusão

Ainda que existam diversos desafios pela frente, é esperançoso ver que peças importantes da indústria da moda estão tomando passos importantes em direção à sustentabilidade. E com essas empresas influentes tendo o carbono neutro cada vez mais certo em seu repertório, não vai demorar muito até que essa prática não seja mais uma demanda, mas sim o novo normal.

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