A moda é um poderoso comunicador que influencia as percepções de nós mesmos e dos outros. A roupa começou por necessidade e praticidade mas rapidamente se transformou em uma forma de arte e ferramenta de comunicação. Refletia onde as pessoas se classificavam na sociedade, quanto podiam pagar e o que possuíam. O ideal irrealista de perfeição física da indústria da moda está em desacordo com corpo e mente saudáveis. Há mais do que aparenta quando se trata das roupas que você escolhe usar. Nossas escolhas de guarda-roupa têm várias repercussões psicológicas. A moda desempenha um papel significativo em refletir atitudes mentais, cultura política e/ou religiosa. A existência de uma conexão entre a moda e doença mental tem sido um tópico de discussão na indústria.
Entenda melhor
Já ouviu falar na Síndrome do Impostor da Moda? É uma condição mental de insegurança em que se envolver em novas tendências da moda fora de sua zona de conforto faz com que as pessoas se sintam inautênticas em sua própria pele e com falta de autoconfiança. As tendências mudam tão rapidamente, tornando-se impossíveis de incorporar no traje diário. A moda é tanto uma cultura quanto uma profissão. De acordo com a Conferência Internacional sobre Vícios e Distúrbios Associados, as pessoas na indústria da moda têm 25% mais chances de sofrer de doenças mentais do que qualquer outra indústria.
A moda está muito associada ao glamour. Isso coloca um fardo constante sobre os profissionais da indústria, fazendo com que duvidem continuamente de si mesmos e trabalhem demais para se manterem relevantes. As pressões sistêmicas e implacáveis da moda tornam seus colaboradores vulneráveis a vários problemas de saúde mental.
Mídias Sociais
Se dermos uma olhada nos efeitos das mídias sociais em nossas vidas agora, é difícil imaginar viver sem elas. Há momentos em que nos encontramos com uma sensação de mal-estar devido ao consumo excessivo de moda online, afinal ela está em todos os lugares. A mídia social piorou o impacto da moda na saúde mental por meio de um aumento no consumo de conteúdo de moda e padrões de beleza irrealistas, devido o uso de filtros e outros softwares de edição. O medo de perder (FOMO) as últimas tendências da moda desencadeia ansiedade, diminui a auto-estima e cria um senso de exigência desnecessário. O aumento do número de influenciadores de estilo e o incessante conteúdo de mídia social também pode criar um desejo de querer o que outras pessoas (geralmente celebridades) têm.
Cognição Encoberta
De acordo com um estudo de 2012 da Northwestern University, usar certas roupas tem um efeito tangível na psicologia e no desempenho do usuário. Esse conceito é conhecido como “cognição encoberta”, que se refere ao significado simbólico da moda e sua influência no estado mental. Um grupo de pessoas foi convidado a responder algumas questões científicas dentro de um determinado período de tempo. Eles responderam às mesmas perguntas na mesma sequência novamente, só que desta vez eles foram obrigados a usar jalecos enquanto respondiam. Observou-se que a taxa média de acerto foi maior na segunda rodada, quando comparada à primeira. Esta experiência prova claramente o impacto da roupa na psicologia de uma pessoa. Isso implica a razão pela qual as profissões têm códigos de vestimenta. Por exemplo, jaleco de médico, bata de advogado, traje de bombeiro e uniforme de militar. Cada peça de roupa tem um significado simbólico associado a ela.
Dissonância Cognitiva
No lado oposto do espectro está a “dissonância cognitiva”, um fenômeno psicológico em que uma ação que se afasta de nossos valores ou crenças pessoais leva a um conflito que causa mal-estar mental. Para reduzir o desconforto, nos convencemos de que queremos realizar a ação ou mudamos a ação para que ela se alinhe com nossas crenças. Esse fenômeno ocorre diariamente através de pessoas que limpam seu guarda-roupa de peças que não se alinham com seu senso de identidade ou com a personalidade que estão tentando incorporar. Vestir roupas que não se ajustam bem ou não expressam uma identidade individual diminui a autoconfiança, o que faz com que a pessoa se sinta estranha e desconectada.
Pressão externa
Marcas e designers de moda estão se concentrando em alterar as especificações de medidas ou criar roupas para permitir que os consumidores caibam em tamanhos menores. Isso afeta drasticamente a imagem corporal, torna as compras mais estressantes e dá uma ideia doentia de um corpo perfeito para os consumidores. Filmes e programas de TV como “I Feel Pretty (2018) e “Dietland” (2018) lançaram luz sobre a questão do tamanho da vaidade e seus efeitos nocivos na imagem corporal. Existe tamanho ideal? Existe beleza única? Não, não existe um tamanho ideal e beleza é uma harmonia que reflete o estado de ser. Não pode ser exibida como padrão, só pode ser sentida.
Observa-se que o desenvolvimento da personalidade com base em trajes e acessórios tem como alvo os adolescentes, pois eles estão em estágio de desenvolvimento e são suscetíveis a influências externas. A combinação de pressão dos colegas e autoconsciência natural faz com que a moda tenha um efeito prejudicial na saúde mental dos adolescentes. Fatores como “mau” gosto e a incapacidade de comprar as últimas tendências levam a um sentimento de inadequação entre os adolescentes. Eles tendem a usar a moda como forma de evitar zombarias e manter relacionamentos com seus amigos.
A incapacidade de espelhar seus amigos e ídolos pode fazer com que se sintam “excluidos”, levando inevitavelmente a uma auto-estima negativa. As escolhas de moda fazem parte do crescimento e da auto expressão dos adolescentes e, portanto, devem ser utilizadas da maneira correta. Isso pode ser superado com sucesso não prestando atenção à pressão dos colegas e, em vez disso, definindo a própria tendência autêntica.
Conclusão
Toda moeda tem dois lados. O lado positivo dos impactos da moda na auto-imagem são que ela incute em um sentimento de autoconfiança, auto-estima e pertencimento por meio de roupas, acessórios e maquiagens. Usar roupas projetadas para complementar a figura única ajuda a melhorar a imagem corporal, além de aumentar a criatividade.
As escolhas de moda também refletem progresso e moralidade. Ao invés de tentar obter satisfação com o consumo excessivo, as pessoas estariam melhores se estivessem trabalhando no autoconhecimento e desenvolvimento pessoal para serem fiéis a si mesmas, independentemente de quão “moderna” seja a marca. Não há soluções claras para problemas como saúde mental, mas há medidas que podem ser tomadas para seguir na direção certa. A educação em torno dos perigos e mentiras do consumismo ajudaria a dissipar o sentimento elitista da marca e as pressões associadas.
A aceitação de si mesmo assim como a aceitação de diferentes tipos de corpos, com uma reavaliação das visões sociais em torno da imagem corporal, também aliviaria o fardo da saúde mental, permitindo que cada pessoa seja ela mesma, sem inseguranças.
As chamadas “roupas poderosas” podem fazer com que a pessoa sinta-se mais autoconfiante devido a melhora na sua autopercepção. A assinatura da autenticidade é a ressonância. Parecer e sentir-se bem não é apenas um slogan publicitário, é um aspecto viável é importantíssimo para o seu bem-estar.
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(Imagem retirada do site Grandes Mulheres.)
