Andreia Pellisson

A cultura do imediatismo

O tempo livre é algo que deve ser evitado a todo custo? Pelo viés imediatista, sim. Mas
quais são os efeitos negativos da cultura do imediatismo ao longo da vida e de uma
carreira?

Estamos vivendo na cultura da mudança e do imediatismo. Esperamos sempre a saída mais fácil, a resposta pronta nas nossas mãos e a lei do menor esforço. Perdemos a paciência, não podemos mais esperar. Tomamos o imediatismo como garantido e exigimos respostas imediatas. Descartamos tudo o que leva tempo e não valorizamos a importância da espera. Temos muitas opções ao nosso alcance. Nada nos surpreende, porque já não valorizamos quase nada. Com isso estamos nos acostumando a fazer várias coisas ao mesmo tempo e a viver de forma reativa e impulsiva a coisas triviais, como por exemplo comentários e posts nas mídias sociais, mas deixamos de dar o devido valor aos que estão ao nosso lado, às experiências em si, e a nós mesmos.

Era da conectividade e o imediatismo

A pandemia de Covid-19 já remodelou as nossas vidas e, todos os dias, continua a remodelar o nosso futuro. Na era da conectividade, desenvolvemos uma cultura de imediatismo e gratificação instantânea. Estamos acostumados a ter a resposta para nossas perguntas na ponta dos dedos e não nos sentimos mais confortáveis em esperar por uma resposta ou refletir sobre qualquer coisa.
 
Não estamos mais confortáveis em estar errados. Contamos com nossos telefones para alimentar e validar nosso conhecimento. Não gostamos da incerteza, pesquisamos no Google e orgulhosamente apresentamos nossas telas de telefone para nossos amigos: “veja, é exatamente o que acabei de dizer”.

Pensamentos não filtrados

A sobrecarga de informação aliada ao nosso impulso de opinar sobre tudo, cria um terreno fértil para o pensamento obsessivo e para a partilha de pensamentos não filtrados. É difícil resistir à tentação de dar palanque a quem grita mais alto. É assim que extremistas (em lados opostos) ganham destaque – e milhares de pessoas ecoam suas opiniões antes que os verdadeiros especialistas tenham a chance de agir. Não temos tempo de pesquisar por nós mesmos. Tomamos como verdadeiro aquilo que escutamos, e acabamos por propagar em alta voz.

Efeitos negativos do imediatismo ao longo de uma carreira

Na vida profissional uma das coisas que não ajuda nosso estado mental durante esta era de imediatismo e gratificação instantânea é o medo e/ou incertezas. Além disso, nossa impaciência e nossa ansiedade podem estar tornando qualquer boa solução ainda mais ilusória.

Os jovens, por sua vez, imersos na cultura do imediatismo, têm muita dificuldade em enfrentar problemas, lidar com hierarquias e aceitar o que não podem controlar. O resultado disso é que mesmo sendo profissionais muito qualificados e competentes, eles acabam se tornando um problema justamente por conta do individualismo exacerbado.

Cursos de atenção plena nunca estiveram tão em alta, pessoas querem aprender a fazer as coisas conscientemente e com total atenção. Pareceria até engraçado que hoje em dia qualquer adulto precisasse de um “curso de atenção”. Mas ao pensarmos na maneira que a sociedade tem se comportado fica claro cada vez mais a necessidade de que essa habilidade seja implantada.

Umas das principais consequências da cultura do imediatismo é o modo reativo que as pessoas adotam. O problema é que, em nosso mundo moderno, essa maneira de fazer as coisas se torna quase que um atrito. “Faça muitas coisas ao mesmo tempo, e faça-as imediatamente, neste exato segundo, AGORA”,
parece ser um requisito de nossos atuais tópicos e tendências. Faz sentido que um enorme número de pessoas esteja se sentindo confusa, sobrecarregada , ansiosa e deprimida com o ritmo da vida moderna, a ponto de precisar ser lembrada sobre a atenção plena. A pressão de estar online o tempo todo, disponível o tempo todo, de responder imediatamente a e-mails ou mensagens, de pular no tempo para o atual( onde “atual” significa as últimas duas horas, porque em mais duas será um novo) é insano e nos torna menos produtivos, não mais.
 
A propósito, isso incomoda imensamente algumas pessoas: Como ousa silenciar seu telefone permanentemente e ignorá-lo enquanto faz qualquer coisa que exija sua atenção? Como ousa não estar no modo de chat permanente? Tentar não ser “interrompível”, o que incomoda muitos que vivem sempre conectados e esperam que todos reajam imediatamente. Quanto mais produtivos em nosso trabalho e negócios poderíamos ser, se nos comprometêssemos a sempre dar às tarefas nosso foco total?

Mais ausentes e menos presentes. Mais ansiosos e menos felizes.

A desastrosa combinação de fazer várias coisas ao mesmo tempo e também, “ter que” responder a tudo imediatamente, nos torna menos produtivos, não mais. Aumenta nossa ausência, não nossa presença. Fazer várias coisas ao mesmo tempo com pouca consciência de cada uma delas não apenas reduz nossa produtividade como trabalhadores, mas nossa presença como seres humanos e a alegria de fazer em geral, mas também há outros perigos. Quem se torna uma pessoa com esse tipo de comportamento terá dificuldades de se relacionar com os outros, podendo desencadear ansiedade e depressão ao longo do tempo.

Conclusão

Ainda que muitos acreditem que o imediatismo pode ser uma forma de gerar produtividade e competitividade saudável, quando analisamos mais profundamente, vemos que ele nada mais é do que mais uma fonte de ansiedade para a sociedade moderna.

Fica então a reflexão

A cultura do imediatismo nos promete soluções rápidas e fáceis como um download em alta velocidade. Mas será mesmo que o mais importante é produzir e consumir, para voltar a produzir e consumir ainda mais?

A cultura do imediatismo não está nos afastando de nós mesmos e das pessoas?

É preciso compreender que lidamos com questões que não podem ser solucionadas de imediato, ou pelo menos, não na velocidade que gostaríamos e da maneira que imaginamos.

Não permita que o momento presente passe despercebido por pensar muito no momento seguinte.Ter consciência dessa questão é o primeiro passo para uma vida mais saudável.

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