Entenda melhor:
Também conhecida como care economy, a economia de cuidados é a expressão utilizada para o trabalho dedicado à sobrevivência, educação e bem estar realizado predominantemente por mulheres. Em outras palavras, nada mais é do que criação dos filhos, cuidados com idosos e trabalhos domésticos que não são recompensados monetariamente, ou pelo menos não como deveriam. O impacto dessa responsabilidade delegada pela sociedade às mulheres é imenso, uma vez que aumenta a desigualdade de renda entre gêneros além do estresse e problemas para saúde.
Essas tarefas tomam muito tempo dos envolvidos. Cozinhar, fazer faxina, dar banho, cuidar das roupas… O dever constante de gerenciamento e planejamento das funções domésticas é um trabalho sem reconhecimento, muitas vezes invisível, que pode ser exaustivo emocionalmente. Isso tem um impacto significativo na vida profissional das mulheres. Seu tempo e recursos são sempre divididos entre a dinâmica familiar e corporativa.
Podemos atrelar ao trabalho de cuidado o papel secundário que as mulheres têm no mercado de trabalho. Os cargos mais importantes são, em sua grande maioria, destinados aos homens. Assim como promoções e aumentos salariais. Quanto mais a mulher passa exercendo funções dentro de casa, menos horas ela tem para se dedicar a sua profissão. Dados mostram que mulheres gastam 4,5 horas diariamente fazendo trabalhos domésticos, em contrapartida homens não gastam nem metade desse tempo.
Dados:
As estatísticas de trabalhos não remunerados realizados por mulheres são chocantes. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico divulgou uma lista com comparações entre gêneros. Na França elas passam 224 minutos realizando essas atividades, os homens passam apenas 134,9 minutos realizando os mesmos afazeres. Já em Portugal elas passam 328,2 enquanto que eles apenas 96,3 minutos. E o mais chocante, na Coreia do Sul as mulheres ocupam 215 minutos do seu dia, e ele apenas 49.
A classe social também tem grande influência na economia do cuidado. Podemos ver que quanto mais pobre a mulher, mais sobrecarga ela tem. Na cultura brasileira, onde a escravidão está bastante enraizada, as mulheres negras são a maioria que exercem essas atividades. 63% das donas de casa negras estão abaixo da linha da pobreza.
Se todo esse trabalho não remunerado das mulheres fosse calculado, equivaleria a US $10.8 trilhões. Ficando atrás apenas de 4 economias mundiais. Isso é 24 vezes mais do que o que o Vale do Silício movimenta. O esforço de amamentar geraria um equivalente a 11% do PIB. Ficando a frente de qualquer indústria, produzindo o dobro da pecuária.
Futuro da economia de cuidados:
O IBGE aponta que até 2050 teremos ⅓ da população dependente de cuidados. Esse número é a prova de que políticas, voltadas para o trabalho de cuidados, devem ser tomadas. Redistribuir os cuidados para homens e inserir o estado nessa economia são algumas das possíveis soluções.
As empresas também têm uma parcela importante nisso. Devem criar políticas internas onde licenças de paternidade também sejam oferecidas. Quando se trata de idosos, é preciso criar instituições públicas que ofereçam cuidados com medicamentos, alimentação, higiene e necessidades psicológicas.
Desde os anos 2000, o Brasil tem passado por avanços importantes na economia de cuidados. A criação da categoria “dona de casa” foi um avanço para as mulheres. A partir disso essas trabalhadoras podem contribuir na previdência social e consequentemente receber a aposentadoria como tem direito.
Conclusão:
A economia mundial só chegou onde está hoje pois tem na sua base o trabalho não remunerado das mulheres. Dessa forma pode-se concluir que a economia tradicional, ou seja o comércio, indústrias, agronegócio…, não seriam possíveis sem a economia de cuidados.
O trabalho de cuidado é um dos principais recursos da economia atual. Dessa forma é preciso viabilizar, redistribuir e remunerar esses meios. Da mesma maneira que a invisibilidade da economia de cuidados faz a manutenção da estrutura desigual de gêneros, sem ela o mundo como conhecemos não seria possível.
Se existe uma classe de trabalhadores hoje no mundo, é porque há um grupo enorme de mulheres cuidando e tomando conta dos futuros colaboradores da economia mundial.