Andreia Pellisson

Upcycling, moda circular, Slow Fashion : uma forma mais consciente de se fazer moda

A cada nova estação e temporada surgem milhares novas de peças que chegam em lojas espalhadas por todos os cantos do mundo. Porém a produção excessiva para atender a indústria da moda têm gerado muito impacto para o meio ambiente. Não é à toa que as pessoas estão cada vez mais preocupadas com a questão da sustentabilidade. O mercado passou a ter um novo olhar sobre as peças, não só com o objetivo de criar soluções, mas também com novos jeitos de se fazer moda. É daí que vem conceitos como o Upcycling, Moda Circular e o Slow Fashion.

Contextualizando

Para você entender melhor de onde surgiram essas preocupações, resolvi trazer algumas informações relevantes a nível mundial e exemplos simples. O nosso planeta é composto por 1,4 bilhões de quilômetros cúbicos de água. É difícil até imaginar essa quantidade, não é? Desse número apenas 0,2% estão disponíveis, seja para bebermos, usarmos na agricultura ou pecuária, uma vez que, a água congelada nos pólos e a salgada não são úteis para o consumo.

Os processos de lavagem geram muitos resíduos e acabam gastando milhares de litros de água. Estima-se que sejam necessários até 11 mil litros para a fabricação de uma peça feita de jeans, fora que o algodão usado na produção, é normalmente cheio de agrotóxicos. Com isso, nos últimos anos a indústria tem se empenhado em minimizar esses impactos buscando alternativas por meio de novos processos e tecnologias, além  de visar uma moda mais consciente e circular.

Anualmente a indústria global da moda produz cerca de 53 milhões de toneladas de fibras têxteis de acordo com uma matéria do site BOF (Business Of Fashion) e o levantamento da instituição Ellen MacArthur Foundation, sendo que 70% acaba em aterros sanitários. Já no Brasil, por ano são produzidas 1.100.000 toneladas de roupas, sendo12% de desperdícios, segundo um relatório do Fashion Revolution de 2020.

Como ser mais consciente?

Upcycling, moda circular, Slow Fashion.

As gerações mais novas entendem que tão importante quanto “arrasar no look”  é compreender as consequências e impactos disso. O consumidor atual busca marcas e produtos que estejam alinhados com os seus valores de forma autêntica, por isso acabou sendo um processo natural ir buscando inovações e soluções nesse sentido. Foi quando muitas empresas reformularam e iniciaram uma nova forma de se fazer moda com modelos de negócios mais sustentáveis.

Nessa linha, surgiu a moda circular, que  pensa em todo o ciclo de vida do produto, desde o design da peça até o descarte no fim da sua vida útil. Trata-se de um conceito que questiona como as roupas são produzidas, se preocupa com os processos utilizados,  materiais e as formas de reutilização, como forma de promover a produção de peças duráveis, confortáveis e sustentáveis.

O modelo ainda bastante atual no mercado é o fast fashion, que no mundo do varejo significa renovação rápida e constante de modelos,  ou seja, sempre há peças novas disponíveis  para o consumidor e estímulo de compra é grande, o que gera assunto para outro artigo – o consumo indiscriminado sem necessidade. 

Já o Slow Fashion é o modelo oposto e surgiu como uma resposta ao Fast fashion, isso porque sua principal característica é a oposição aos modismos passageiros, valorizando peças que são feitas para durar, em todos os sentidos. 

E quais as características do Slow Fashion?

  • Comprometido com o uso responsável dos recursos.
  • Produção de itens atemporais, valorizando modelagens simplificadas;
  • Apoio aos pequenos negócios e as marcas independentes.
  • Valorização da produção local;
  • Respeito e inclusão com funcionários e clientes;
  • Uso de bases naturais, como o linho, o algodão e a seda, além dos tecidos tecnológicos, como o poliéster reciclado, o laminado vegetal e o piñatex. 
  • Transparência com os clientes. Informando o processo de fabricação dos produtos.
  • Apreciação dos trabalhos manuais e estética artesanal, muitas vezes vindo como contraponto a moda digital, que visa  um produto mais moderno e instantâneo. 

Revivendo o Upcycling

Definitivamente essa não é uma tendência nova. O Upcycling é bem antigo no universo da moda e era comumente utilizado quando a moda não estava bem, mas no contexto atual ganhou uma nova importância, a sustentabilidade.

O conceito Upcycling é o método de transformar materiais que já existem em produtos novos, com maior valor agregado. É uma prática que aproveita a durabilidade dos materiais para prolongar o seu uso.  Pode ser colocado em prática pelos próprios consumidores em casa,  personalizando ou transformando peças já existentes. O importante é usar a criatividade para que elas se tornem novas e exclusivas. 

Nem sempre é necessário ser fruto do reaproveitamento de peças já existentes, porém é interessante usar essas técnicas. até mesmo para aproveitar cada cm² de tecido designado para a confecção, sem desperdícios.

No Brasil

No Brasil, as grandes varejistas estão buscando parcerias. Querem agregar práticas mais sustentáveis às suas marcas com cooperativas e  também com iniciativas que valorizem o trabalho justo, além do uso de materiais ecológicos. E são esses movimentos e novas formas de fazer moda que caminham lado a lado com a sustentabilidade.

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